Energia solar e as oportunidades e desafios do armazenamento

Matéria publicada na revista FotoVolt

Por Ildo Bet, Rodrigo Sauaia e Ronaldo Koloszuk
 

O mercado global de energia solar fotovoltaica é atualmente um dos maiores desenvolvedores de soluções e novas tecnologias que colaboram com a qualidade de vida das pessoas, ampliam a competitividade nas empresas e, principalmente, geram emprego e renda para as populações. A pujança do setor supera limites e expande as fronteiras da fonte fotovoltaica para além da própria geração limpa e renovável de eletricidade, mesmo diante de desafios inéditos, como os vividos atualmente.
 
A grande revolução do setor de energia solar está intimamente ligada aos novos desafios globais nas áreas de mobilidade urbana, internet das coisas e redes inteligentes. A tecnologia fotovoltaica está no centro do debate em torno da viabilidade, por exemplo, dos veículos elétricos, das construções sustentáveis e, sobretudo, do armazenamento de energia elétrica por baterias.
 
Historicamente, sistemas de armazenamento sempre foram um desafio na geração de energia elétrica. Por muitos anos, o uso de armazenamento eletroquímico, por meio de baterias chumbo-ácido, foi uma das tecnologias mais utilizadas em regiões isoladas ou remotas, mesmo com dificuldades em aspectos como custo, durabilidade (vida útil) e necessidade de manutenção recorrente em alguns modelos.
 
Programas de eletrificação rural do Governo Federal, como o Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios (PRODEEM) e o Programa Luz para Todos (LpT) viabilizaram a instalação de uma importante quantidade de sistemas de fontes renováveis com armazenamento, em locais afastados. Com isso, foi possível superar certas características, como a grande distância da rede elétrica, a baixa densidade populacional e as dificuldades para o fornecimento contínuo de combustíveis, entre outras.
 
Atualmente, ainda existem no Brasil muitos locais que apresentam estas mesmas características e que representam um grande mercado potencial para soluções, como sistemas fotovoltaicos com baterias. Comunidades rurais podem ser beneficiadas com a implementação deste tipo de sistema, o que também pode viabilizar a oferta de Internet de banda larga nestas regiões, permitindo que crianças acessem conteúdos educativos de melhor qualidade ou que um médico auxilie remotamente um enfermeiro local, por exemplo.
 
Além dos sistemas isolados, projetos híbridos de energia solar e armazenamento também são excelentes alternativas para consumidores de energia em geral (projetos ‘atrás do medidor’), com foco em redução de consumo durante horário ponta, redução de demanda e backup de energia; e também para sistemas de grande porte (projetos ‘em frente do medidor’), para prestação de serviços ancilares, facilitar despacho de usinas renováveis de grande porte, diferimento de investimento em infraestrutura de rede e trading de energia.
 
Com o avanço tecnológico e a necessidade de atender novas demandas de expansão das fontes renováveis, alternativas para substituir as baterias de chumbo-ácido foram desenvolvidas, por exemplo, as baterias de íons de lítio. Dentre as principais vantagens desta tecnologia, encontramos a maior densidade elétrica, a vida útil mais prolongada e a capacidade de suportar regimes de carga e descarga mais intensos. Geralmente estes equipamentos são comercializados em bancos de baterias modulares, em conjunto com o seu respectivo Battery Management System (BMS). Vale destacar que baterias de íons de lítio, diferentemente daquelas de chumbo-ácido, não requerem manutenção recorrente.
 
Na Alemanha, as tecnologias híbridas de geração de energia a partir de fontes renováveis, combinadas com armazenamento por meio de baterias, já representam uma potência de 1 GW, distribuídas em mais de 120 mil sistemas. Ao viabilizar o estoque da energia elétrica gerada por sistemas que combinam a fonte solar e outras, passam a ser uma opção mais competitiva e limpa que a geração por termelétricas nos horários de pico.
 
Um dos grandes desafios para a expansão deste mercado no Brasil está na defasagem da regulação vigente. A Resolução Normativa nº 482, de 2012, da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), não contempla adequadamente as soluções de armazenamento em sistemas conectados à rede, nem outros modelos de negócio na área.
 
Também a Portaria nº 004, de 2011, do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), não contém regulamentação apropriada para baterias de íons de lítio ou de sistemas de armazenamento em geral. Enquanto não há normas técnicas nacionais, o País poderia adotar normas internacionais pertinentes.
 
Independentemente dos desafios do percurso, o avanço do armazenamento é inexorável e será cada vez mais forte no Brasil, pela redução dos custos das baterias ao longo dos anos. Segundo a Bloomberg New Energy Finance (BNEF), o preço de baterias de íons de lítio despencou mais de 75% entre 2010 e 2018, sendo a segunda tecnologia que mais se barateou no setor elétrico mundial, atrás apenas da solar fotovoltaica, com redução de 83% no mesmo período. Um ponto de atenção, porém, deve permanecer no radar: a alta carga tributária incidente sobre as baterias no Brasil, em torno de 80%, onera desproporcionalmente o segmento.
 
Todavia, as perspectivas são de um grande avanço deste mercado, que deve ser impulsionado pelo aumento da penetração do carro elétrico, puxando para baixo os preços dos equipamentos, bem como pela implantação prevista das tarifas horárias no território nacional, o que ajudará a abrir espaço para novos modelos de negócios e aplicações com o armazenamento de energia elétrica no Brasil.
 
*Ildo Bet é sócio fundador da PHB Solar
 
*Rodrigo Sauaia é CEO da ABSOLAR
 
*Ronaldo Koloszuk é presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR

A força da energia solar em tempos de pandemia

Artigo publicado na Revista FotoVolt

Por Rodolfo Meyer, Rodrigo Sauaia e Ronaldo Koloszuk*
 
Pandemias, guerras, crises e revoluções, embora tragam impactos desafiadores para a humanidade no curto e médio prazos, também funcionaram historicamente como catalisadores do desenvolvimento econômico e social de sociedades. Em tempos difíceis, como nestes momentos históricos e transformadores, a inovação e a evolução tecnológica ganham protagonismo e aceleram a superação dos desafios. Historiadores nos lembram que “germes, armas e aço” possuem papeis determinantes nos modelos de sociedade que vivemos atualmente.
 
Neste cenário global de crise sanitária, causada pelo novo coronavírus, alguns setores da economia já começam a mostrar a sua força e o seu potencial de desenvolvimento acelerado, de transformação. É o caso da energia solar fotovoltaica. No Brasil e no mundo, esta fonte limpa, renovável e competitiva tem sido elencada dentre as principais apostas de governantes, entidades e empresas para a retomada do crescimento econômico no pós-pandemia.
 
Segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o Brasil acaba de ultrapassar a marca histórica de 6 gigawatts (GW) de potência operacional da fonte solar fotovoltaica em usinas de grande porte e pequenos e médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos. Desde 2012, a fonte já trouxe R$ 31 bilhões em novos investimentos privados ao País, tendo gerado mais de 180 mil empregos acumulados.
 
Somente nos primeiros seis meses de 2020, a solar fotovoltaica foi responsável pela geração aos brasileiros de mais de 41 mil empregos, mesmo com a queda da atividade econômica decorrente da pandemia da Covid-19.
 
De janeiro a junho deste ano, o setor adicionou 1381 megawatts (MW) em capacidade instalada, o que representa um crescimento de 30,6% frente ao histórico consolidado até o final de 2019. Nestes seis meses, foram atraídos novos investimentos privados ao Brasil de R$ 6,5 bilhões. Com isso, os empreendimentos fotovoltaicos já operacionais proporcionaram uma arrecadação agregada de R$ 2,5 bilhões em tributos aos cofres públicos em 2020.
 
Nosso País possui um dos melhores recursos solares do planeta e, com isso, tem assumido uma posição cada vez mais destacada no desenvolvimento e uso da tecnologia fotovoltaica. Segundo apuração da ABSOLAR, com base em dados da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), o Brasil assumiu a 16ª posição no ranking mundial da fonte solar fotovoltaica. Com isso, ingressamos nos TOP 20 países com mais capacidade instalada da fonte em operação, somando as grandes usinas centralizadas e os pequenos sistemas distribuídos em residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e no setor público.
 
Dados da ABSOLAR apontam que o Brasil avançou 5 posições do final de 2018 até o final de 2019, atingindo um total acumulado de 4.533 MW no período. Apenas em 2019, foram adicionados 2.120 megawatts (MW), impulsionados pelo avanço da geração distribuída, que instalou 1.470 MW, e seguidos de 650 MW de geração centralizada. Com isso, o Brasil fechou o ano de 2019 com R$ 24,1 bilhões em investimentos privados acumulados na fonte solar fotovoltaica, tendo gerado mais de 134 mil empregos acumulados desde 2012. Apenas no ano de 2019, o setor trouxe ao Brasil R$ 10,7 bilhões em novos investimentos e mais de 63 mil empregos.
 
O ranking mundial é liderado pela China, seguida do Japão, Estados Unidos e Alemanha, com destaque para o crescimento significativo da Índia no período. No caso brasileiro, em 2017, o País ocupava a 27° posição. Já em 2018, saltou para 21° e, no último exercício, subimos para o 16° lugar.
 
Apesar da positiva subida do Brasil no ranking, o País permanece aquém de seu potencial solar, quando comparado às demais fontes renováveis. Há muitos anos, estamos entre as dez principais nações nas fontes hídrica (2º lugar), biomassa (2º lugar) e eólica (8º lugar). Porém, na fonte solar ainda não atingimos sequer o TOP 10 no mundo. Temos totais condições de chegar lá e mudar este quadro: o avanço recente do mercado mostra que ainda há um oceano de oportunidades para quem quer trabalhar e empreender neste mercado no Brasil.
 
Em menos de 10 anos, a fonte solar fotovoltaica se tornou a renovável mais competitiva do País, um feito histórico no setor elétrico brasileiro. Com isso, passou a representar uma forte locomotiva para o desenvolvimento sustentável, com geração de emprego e renda, atração de investimentos, diversificação da matriz elétrica e benefícios sistêmicos para todos os consumidores.
 
O Brasil tem muito a ganhar com o crescimento da energia solar fotovoltaica e deve avançar cada vez mais, para se tornar uma liderança mundial no setor. Para enfrentarmos as múltiplas crises sanitária, econômica, social e ambiental que as sociedades do século XXI têm pela frente, a solar fotovoltaica será parte estratégica da solução.
 
*Rodolfo Meyer é CEO do Portal Solar
 
*Rodrigo Sauaia é CEO da ABSOLAR
 
*Ronaldo Koloszuk é presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR

Fazenda Solar: Uma opção de bom investimento na crise

Quando você pensa em fazenda, possivelmente a primeira imagem que vem à sua mente em um vasto campo verde ou coberto por plantações, com cerquinhas brancas, talvez o gado pastando… Talvez nem imagine que esse conceito também pode ser transportado para a tecnologia e, claro, ser um bom negócio. Também conhecidas como usinas solares, as fazendas solares são sistemas fotovoltaicos de maior porte projetados para a produção e “venda” de energia elétrica. “As fazendas de energia solar se diferenciam dos sistemas fotovoltaicos residenciais e industriais, pois fornecem energia para distribuição e também para autoconsumo”, explica Marcelo Milagres, da Energi Sol.


Conforme detalha, em uma fazenda solar, a energia produzida pelos painéis passa por um inversor que converte a energia de corrente contínua em corrente alternada, que nós consumimos em casa ou no trabalho. A eletricidade produzida pela fazenda solar é transmitida pelas redes de transmissão de energia e distribuída para o uso em sua residência, comércio ou indústria. Para a implantação e distribuição é necessário o sistema trifásico na propriedade ou próximo ao local.

Produção x Custo

Um dos pontos que chama atenção neste assunto é a relação custo-benefício. De acordo com o sócio-diretor, Gilberto Milagres da Energi Sol, uma pequena fazenda solar produz aproximadamente 10.000 KWh/mês, gerando uma economia média de R$9.000,00 por mês. “E esse sistema pode ser totalmente financiado de maneira com que o cliente sequer sinta o impacto, porque o valor das prestações do financiamento equivalem ao valor economizado na sua conta de energia elétrica”, argumenta.


Exatamente por isso essa tecnologia tem se tornado cada vez mais atrativa e popular: “Nestes tempos de fragilidade econômica, a fazenda solar pode ser uma excelente opção para a economia de energia, bem como para o investimento. Hoje em dia, as aplicações financeiras bancárias chegam, no máximo, a 0,5% ao mês, ao passo que o investimento em uma usina solar pode gerar um retorno maior que 2% ao mês, podendo, inclusive, ser cotizado”, pontua.


E sabe aquela visão de um campo vasto do qual falamos bem no começo da matéria? Pode apagar da mente se o assunto for uma fazenda solar. Usinas solares podem ser montadas em qualquer terreno ou telhados com mais de 400m², desde que o local tenha grande irradiação solar e inclinação adequada. “A Energi Sol dispõe de tecnologia de ponta e está a sua disposição para mais informações”, acrescenta.